CATÓLICOS do OESTE | A Igreja “verde” que se precisa

catolicos-do-oeste-e1480525558952No dia 24 de maio celebrámos o quinto aniversário da Carta Encíclica Laudato Si, que em português significa Louvado Sejas, com o subtítulo de “sobre o cuidado da casa comum”.

O Santo Padre inspirou-se assim na conhecida evocação de São Francisco: “Louvado sejas, meu Senhor” ficando esta Encíclica conhecida como a Encíclica Ecológica do Papa Francisco, alertando para os perigos do consumismo e do desenvolvimento desenfreados, e o seu impacto na “casa comum”, na degradação ambiental e nos riscos climáticos que a ameaçam.

A pergunta fulcral é: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?”. A pergunta não é dirigida só aos cristãos, mas sim “a cada pessoa que habita neste planeta”, sendo que o Papa Francisco invoca a “solidariedade universal” para “unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral”.

Alerta de forma clara para “as milhões de mortes prematuras” causadas sobretudo entre os mais pobres e necessitados; para a poluição causada pela indústria, as descargas, os pesticidas e resíduos que fazem “a nossa casa transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo”. O Papa afirma que a própria ciência é clara ao afirmar que “estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático”, devido, na sua maioria, à grande concentração de gases com efeito de estufa. O Santo Padre é claro, e diz que “a humanidade deve tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento”.

Em simultâneo alerta para o esgotar de recursos naturais devido ao elevado nível de consumo dos países mais desenvolvidos, com uma clara alusão ao problema da água potável em África, afirmando que “o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal”.

Por outro lado, chama à atenção para a fraca qualidade da vida humana e os problemas sociais causados pelo crescimento desmedido das cidades, que tornam essas mesmas cidades pouco saudáveis para se viver, quer seja pela poluição quer seja pelo caos urbano. O problema da degradação do ambiente natural e do ambiente humano atinge em primeiro lugar os mais fracos, algo que os decisores políticos estão alheados. O Santo Padre vai mais longe e denuncia “a fraqueza da reação política internacional», e «com muita facilidade, o interesse económico chega a prevalecer sobre o bem comum e manipular a informação para não ver afetados os seus projetos.”

Muito mais haveria por dizer e falar sobre esta Encíclica que em boa hora o Santo Padre redigiu, e que deve nortear os cristãos sobre a posição da Igreja em matérias tão atuais e sensíveis como a preservação do planeta, as desigualdades crescentes entre hemisfério norte e sul, a falta de vontade dos poderes políticos perante os poderes económicos.

Por isso, na semana passada, até ao dia 24 de Maio, a Igreja celebrou a Semana Laudate Si, nas palavras do Santo Padre “o grito da terra e o grito dos pobres não aguentam mais. Cuidemos da criação, dom do nosso bom Deus criador.” No passado domingo 17 de Maio, o Papa Francisco afirmava: “Nestes tempos de pandemia em que tomamos mais consciência de cuidar da nossa casa comum, desejo que toda a reflexão e empenho comum ajudem a criar e a fortificar atitudes construtivas para o cuidado da Criação.”

Saibamos todos agir de acordo com estas palavras e princípios, reconhecendo a nossa obrigação de cuidar da “nossa casa” e lutar contra as desigualdades que esse mesmo descuido provoca.

Marta e Miguel Xavier
paroquiacaldasdarainha@gmail.com
Artigo de opinião publicado na Gazeta das Caldas na edição nº 5332, Sexta-feira, 29 de Maio de 2020
Fonte: https://gazetacaldas.com/opiniao/catolicos-do-oeste/