CATÓLICOS do OESTE | Cuidar

catolicos-do-oeste-e1480525558952Depois de uma atípica vivência quaresmal, quiçá mais interiorizante, estamos agora em tempo pascal, onde o apelo a cuidar dos outros não pode esmorecer e tem uma premência ainda mais forte, em tempos de pandemia. Ouvimos, frequentemente: “todos temos a obrigação de cuidar de todos”.

Esta frase deve ecoar no mais fundo do nosso coração, de modo a sabermos, na nossa comunidade, onde atuar, como atuar. Vejo, com agrado, que muitos têm este verdadeiro sentir de que não se podem “salvar” sozinhos, contrariando uma minoria que olha apenas para o seu umbigo.

A palavra cuidar traz aquele impulso que nos deve levar ao encontro do outro, fazendo-lhe o que gostaríamos que nos fizessem a nós. A frase de sentido negativo, “não faças ao outro o que não gostarias que te fizessem a ti”, não leva à ação, apenas significa “não faças”. Quando a transformamos em versão positiva “faz aos outros o que gostarias que te fizessem a ti”, adquire outro significado que nos inquieta e motiva muito mais. Quando vamos cuidar de alguém, devemos pensar, antes de agir, na maneira como gostaríamos que cuidassem de nós. Quando chegar à velhice, como gostaria de ser tratado? Se estiver incapacitado de sair da minha casa, qual a ajuda que mais apreciaria? Se aquela criança fosse meu filho ou meu neto, que atenção lhe devia prestar?

Na celebração do Domingo de Ramos, o Papa Francisco, impelia-nos à ação: “Procuremos contactar quem sofre, quem está sozinho e necessitado. Não pensemos só naquilo que nos falta, mas no bem que podemos fazer.” Na mesma celebração, já nos tinha alertado: “O drama que estamos a atravessar impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor, a descobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor”. No mesmo sentido, nos escrevia, na Encíclica “Laudato Si”, que somos “chamados a ser uma Igreja
Samaritana”.

Referia, alguns dias atrás, o Presidente da Organização Mundial de Saúde, que está ao nosso alcance vencer a pandemia, mas para isso temos de cuidar dos mais frágeis. E, nestes momentos, os considerados mais fortes ficam equiparados aos mais frágeis, pois a doença a todos pode atingir.

Sabemos que cuidar não é sinónimo de tratar. Cuidar é ver o outro além das nossas necessidades, é um ato de empatia, é o colo que todos nós precisamos, mesmo na vida adulta. Reconhecida como a fundadora do moderno movimento “hospice”, dizia a médica e escritora inglesa Dame Ciccely Sanders: “O sofrimento só é intolerável, quando ninguém cuida” (1993).

Ao falar no cuidar, não esqueço que o cuidador também precisa ser cuidado. Felizmente, vemos na nossa cidade e no nosso país, bons exemplos de solidariedade, para com quem está no terreno, cuidando para que outros vivam. Dou graças a Deus pelo espírito filantrópico de todos e pela vivência cristã de muitos deles.

Cuidar de alguém é uma das tarefas mais nobres à qual podemos aspirar: cuidar faz-nos mais úteis e valiosos para nós e para os outros, não esperando qualquer recompensa, mas tão somente, o sentimento do dever cumprido.

Não posso terminar esta pequena partilha, sem apelar ao sentido solidário de cada um de nós, para que, em cada uma das comunidades em que vivamos, saibamos responder, afirmativamente, aos apelos de colaboração voluntária que nos vão chegando de várias entidades.

Fernando Alves
paroquiacaldasdarainha@gmail.com
Artigo de opinião publicado na Gazeta das Caldas na edição nº 5326
Sexta-feira, 17 de Abril de 2020
Fonte: https://gazetacaldas.com/opiniao/catolicos-do-oeste/