CATÓLICOS do OESTE | Cuidar da “casa comum”

catolicos-do-oeste-e1480525558952Por vários séculos, prevaleceu um paradigma cristão que tinha o nosso planeta como um domínio absoluto do homem, dado por Deus, podendo retirar dele tudo o que precisasse para seu crescimento e sustento, gerando abusos da terra, escassez de recursos, alterações climáticas, extinções de espécies e muita miséria. A encíclica “Laudato Si”, publicada em 2015 e a qual convido a ler ou a revisitar, vem romper este paradigma, atribuindo ao homem a responsabilidade de cuidar da criação e a preocupação com a sustentabilidade, necessitando que seja garantida a conservação de todas as formas de vida e o futuro das gerações.

Sem me focar em grandes acções e políticas à escala global, fora do alcance da maioria das pessoas, gostaria de reflectir com os leitores sobre o compromisso que cada um de nós deve ter no seu dia a dia, nos locais que frequenta, na cidade ou aldeia onde vive.

Ao circular pelas ruas da nossa cidade, ainda nos deparamos com muita falta de sensibilidade ambiental: pontas de cigarro, papéis, garrafas, detritos animais e outros desperdícios espalhados pelas ruas. Quanto lixo ao redor de muitas casas das aldeias do nosso concelho!… Não vale a pena culpar só os serviços municipais por alguma falta de higiene urbana, se cada um de nós não assumir a sua quota parte. Todos somos chamados a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilo de vida, de produção e de consumo, para combater o desperdício e o aquecimento global ou, pelo menos, algumas das causas humanas que o produzem ou acentuam.

Há responsabilidades intergeracionais que não podemos esquecer. Pelo amor que temos aos nossos filhos, netos, bisnetos, trinetos e todos os que se lhe seguirem, sangue do nosso sangue, temos o enorme dever de deixar um planeta mais saudável, onde a qualidade de vida seja melhor para todos. Por vezes, ouço desabafos do tipo: “quero lá saber, daqui a vinte, trinta, quarenta anos…, já cá não estou. Quero lá saber da falta de água potável, do aquecimento global, blá, blá, blá…”. Puro egoísmo!… E os que ficam? E os que viverem daqui a cem, quinhentos anos? Não têm direito a água potável, ar limpo, plantas e animais saudáveis? Por mais que não seja, embora estejamos mortos e fisicamente reduzidos a pó, o nosso ADN vai continuar nas pessoas que, se fossemos vivos, muito amaríamos.

Todas estas exigências de ordem ambiental, colocam questões que devem ser objecto de exame diário de consciência para todos nós: “O que fiz hoje para manter mais limpa a minha cidade, a minha aldeia? Reciclei? Tive atitudes, com vista à redução do aquecimento global? Pensei nas gerações vindouras? O que posso fazer para melhorar? Arrependo-me dos danos ecológicos que provoco ao planeta? Reconheço os meus pecados contra a criação? E por aí adiante…”.

Que grande responsabilidade temos todos nós!… Que grande desafio é lançado aos cristãos!…
É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação, com pequenos gestos diários. É maravilhoso que a educação ambiental seja capaz de dar forma a um novo estilo de vida, incentivando comportamentos, novos hábitos e a responsabilidade ambiental pela “casa comum”. Rezo, como São Francisco de Assis: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”.

Fernando Alves
Centro Social e Paroquial
paroquiacaldasdarainha@gmail.com
Artigo de opinião publicado na Gazeta das Caldas na edição nº 5291
Sexta-feira, 16 de Agosto de 2019
Fonte: https://gazetacaldas.com/opiniao/catolicos-do-oeste/